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Seca Extrema nas Estradas de Rios da Amazônia Exige Investimentos em Infraestrutura e Apresenta Desafios Logísticos

As mudanças nos ciclos de subida e descida dos rios amazônicos estão trazendo grandes desafios para o transporte e a logística na região Norte do Brasil. Com uma crise climática cada vez mais intensa, o poder público e a iniciativa privada precisam agir rapidamente para enfrentar os impactos das estiagens extremas nas “estradas de rios” da Amazônia.

Dragagens, balizamento náutico e construção de portos são algumas das necessidades urgentes apontadas para melhorar a infraestrutura fluvial diante do cenário atual. De acordo com especialistas, a proteção da Amazônia passa por um investimento em transporte sustentável. “Investir de modo planejado nos rios é crucial, pois o modal fluvial é o principal responsável pela logística e transporte de cargas e passageiros na região amazônica”, destaca um doutor em engenharia de transportes.

Em 2023, a maior estiagem dos últimos 121 anos afetou diretamente cerca de 600 mil pessoas em 62 municípios do Amazonas, que declararam situação de emergência. Para garantir a navegabilidade, foram realizadas dragagens emergenciais, com despesas que ultrapassaram R$ 100 milhões. Ainda assim, as indústrias do Polo Industrial de Manaus (PIM) enfrentaram sobrecustos estimados em R$ 1,4 bilhão. A projeção para 2024 já é de R$ 500 milhões.

“O rio representa cerca de 60% das cargas que chegam a Manaus, tanto para a indústria quanto para o comércio”, explica Augusto Cesar Rocha, coordenador da Comissão de Logística do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM). A seca extrema de 2023 fez com que 90% das embarcações operassem com restrições, aumentando em até 40 horas a duração das viagens para algumas localidades.

Com a previsão de mais uma seca extrema em 2024, 22 cidades do Amazonas já declararam situação de Emergência Ambiental. Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), mais de 20 milhões de toneladas de cargas foram transportadas nos rios amazônicos entre julho e setembro de 2023, representando mais da metade de todo o transporte de carga por vias interiores no país durante o período.

Para enfrentar esses desafios, são necessárias medidas como a dragagem planejada, retirada de pedras submersas, balizamento fluvial e construção de novos portos. “Não só a capital, mas todo o interior precisa de portos adequados que favoreçam tanto durante a cheia quanto durante a seca”, enfatiza Kennedy Marques, presidente da Comissão do Meio Ambiente da Câmara Municipal de Manaus (CMM).

Em resposta à estiagem recorde, o governo federal anunciou investimentos de R$ 500 milhões para serviços de dragagem nos rios Amazonas e Solimões. Além disso, um píer flutuante provisório será instalado na Enseada do Rio Madeira para auxiliar nas operações de transbordo e transferência de cargas durante a seca de 2024.

(Foto: Paulo Dutra/Lídimo Amazônico)

Com o cenário desafiador, a continuidade das operações industriais na região é essencial. As indústrias do PIM, que registraram um aumento de 11,3% na produção de motocicletas em 2023, mostram que é possível manter a atividade econômica mesmo em condições adversas. “O fenômeno de seca não é exclusivo da Amazônia. Empresas continuam operando, ajustando suas operações e enfrentando os desafios logísticos”, conclui Rocha.

O projeto Amazônia 2030 propõe soluções para o desenvolvimento sustentável da região, priorizando a conservação da floresta e o investimento em infraestrutura fluvial. Enquanto essas ações não se tornam realidade, os moradores da Amazônia, como Carlos Cesar, vendedor de passagens, continuam observando a subida e descida dos rios, esperando por secas menos severas.

Fonte: SIMMMEM.